Lei da Paridade
Desengane-se Montalvão Machado quando afirma que a lei da paridade "é um atestado de menoridade de que as mulheres não precisam", e que as mulheres não precisam de quotas, porque até já houve uma primeira-ministra.
Custa-me a crer que os comentários do ilustre senhor sejam efectivamente conscienciosos, e não os quero dissecar como irónicos, logo presumo que o que sucedeu foi uma distracção.
Não existe igualdade entre homens e mulheres, não existe essa igualdade em Portugal. As resistências à inclusão das mulheres nos cargos de decisão são profundas. Todos sabemos que não podemos deixar nas mãos do tempo a chegada das mulheres a cargos políticos e decisórios, porque de outra forma estariamos a dar força à discriminação que existe, e que é sentida no seio na nossa sociedade actual.
Não deveria ser imposto, por lei, a representatividade feminina nos órgãos de soberania, mas se não fosse a lei será que as mulheres poderiam votar?
Tem que haver uma maior participação cívica e política das mulheres, e tem que haver porque não faz sentido que assuntos ligados à mulher continuem a ser tratados, discutidos e votados por homens. Desta forma não se constrói uma sociedade onde se pretende a igualdade de género.
A igualdade de género tem que sair dos temas de debate e fazer parte da nossa realidade, nem que para isso tenham que se criar leis e quotas que obriguem os homens a dar voz às mulheres.
As mulheres não só estão sub-representadas, mas também mal representadas, seja no campo laboral, público e político.
Existe uma pressão social para que as mulheres sejam super-mulheres. A mulher se quer ser reconhecida tem que trabalhar muito mais que um homem, ou alguém acredita que uma mulher que trabalha 10 ou 12 horas seguidas, chega a casa, janta e vai descansar?
Pois é, até agora foi só uma, porque super-mulher só no cinema, e mesmo assim é a mulher do super-homem.
Resta-me dizer que o silenciamento da voz feminina no espaço público e político é resultado das difíceis condições de vida e de trabalho com que muitas mulheres se debatem, contudo não pode ser encarado como uma desculpa para o que não é mais do que falta de vontade política.